Covenant Protestant Reformed Church
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João Calvino sobre Cantar Salmos na Igreja

 

Quanto a orações públicas, existem dois tipos: a que consiste em palavras apenas; a outra inclui música. E isto não é uma invenção recente. Pois desde o início da Igreja que tem sido desta maneira, como podemos aprender nos livros de história. Nem o próprio São Paulo fala de oração por palavras apenas, mas também de cantá-las. E, na verdade, sabemos por experiência que a música tem um grande poder e força para mover e inflamar os corações dos homens para invocar e louvar a Deus com um coração mais veemente e ardente. Devemos sempre atentar com receio de a canção ser leve e frívola, mas ela deve ter sim peso e majestade, como diz Santo Agostinho. E assim, há uma grande diferença entre a música que é feita para entreter as pessoas em casa e na mesa, e os Salmos, que são cantados na igreja, na presença de Deus e Seus anjos. Portanto, se alguém desejar rectamente julgar o tipo de música aqui apresentado, esperamos que ele irá encontrá-la ser santa e pura, vendo que ela é simplesmente feita para a edificação de que temos falado, e para qualquer utilidade mais que se possa colocar. Porque mesmo em nossos lares e fora de portas que seja um incentivo para nós e um meio de louvar a Deus e levantando os nossos corações a Ele, de modo que possamos ser consolados através do meditar sobre Sua virtude, Sua graça, Sua sabedoria, e Sua justiça. Porque isto é mais necessário do que alguém poderá dizer.

Dentre todas as outras coisas que são adequadas para a recriação do homem e para lhe dar prazer, a música, se não a primeira, está entre as mais importantes, e temos de considera-la um dom de Deus feito expressamente para esse efeito. E por esta razão, temos de ter tanto mais cuidado para não abusar dela, por medo de adulterarem ou de contamina-la, convertendo para nossa perdição o que se pretende para o nosso lucro e salvação. Se ainda por esta razão apenas, nós pudéssemos ser justamente movidos a restringir o uso da música, para fazê-la servir somente o que é respeitável e nunca usá-la para desenfreados desvarios ou para nos inundar com incontrolado prazer. Nem deveria levar-nos à lascívia ou poucas vergonhas.

Mas mais do que isto, não existe quase nada no mundo que tenha maior poder de dobrar a moral dos homens desta forma, ou que, como Platão sabiamente observou. E, de facto, encontramos a partir da experiência que tem um insidioso e quase incrível poder de mover-nos para onde quer. E por esta razão temos de ser os mais diligentes para controlar a música de tal modo, que irá servir-nos para o bem e de forma alguma nos prejudicar. Esta é a razão pela qual os antigos doutores da igreja se queixavam de que o povo de seu tempo era viciado em músicas ilícitas e desavergonhadas, ao que eles tinham razão para chamar o mortal veneno de Satanás, corruptor do mundo.

Agora, no tocante à música eu reconheço duas partes, a saber, a palavra, que é o assunto e texto, e a canção ou melodia. É verdade, como diz São Paulo, que todas as palavras torpes vão corromper e perverter a boa moral. Mas quando melodia vai com elas, elas irão atravessar o coração muito mais poderosamente e penetrar adentro. Assim como o vinho é afunilado para dentro de um barril, assim é o veneno e a corrupção destilada para a própria profundeza do coração pela melodia.

Então o que deveremos fazer? Deveríamos ter músicas que não são apenas certinhas, mas santas, que irão impulsionar-nos a orar e louvar a Deus, para meditar sobre Suas obras, de modo a amá-lo, a temer a Deus, para honrá-lo, e glorificá-lo. Porque o que Santo Agostinho disse é verdade, que ninguém pode cantar nada digno a Deus excepto o que tem recebido de Deus. Portanto, onde quer que olhemos procurando ao longe e ao largo, não vamos encontrar nenhumas músicas melhores, nem mais adequadas para esse efeito do que os Salmos de David, que o Espírito Santo fez e transmitiu a ele. Assim, cantando-os, poderemos ter a certeza de que nossas palavras vêm de Deus como se Ele viesse a cantar em nós para a Sua própria exaltação. Portanto, Crisóstomo exorta tanto os homens, como as mulheres e crianças para se habituarem a cantá-los, para desta maneira por este acto de meditação nos tornarmos como um com o coro de anjos.

Então, também temos de ter em mente o que diz São Paulo, que as canções devocionais só podem ser cantadas bem apenas pelo coração. Agora o coração implica inteligência, que, diz Santo Agostinho, que é a diferença entre o canto dos homens e das aves. Porque apesar de um pintarroxo, um rouxinol, ou um papagaio cantarem tão bem, será sem entendimento. Agora é dom do homem de ser capaz de cantar e de saber o que é que está cantando. Depois da inteligência, o coração e as emoções devem seguir-lhe, e isso só pode acontecer se nós tivermos o hino gravado na nossa memória para que ele nunca cesse.

E, por conseguinte, o presente livro não precisa de muita recomendação de mim, vendo que em si possui o seu próprio valor e canta seu próprio elogio ou louvor. Apenas deixe o mundo ter o bom senso de deixar de cantar aquelas músicas, em parte, vãs e fúteis, em parte, estúpidas e aborrecidas, em parte sujas e vis e em consequência más e destrutivas - e que exerceu o seu direito até agora, e usar estes divinos e celestiais Cânticos com bom rei David. Quanto à melodia, parecia melhor moderá-la da maneira que temos feito, de modo a dar-lhe a gravidade e a majestade que convém ao seu tema, e que pode mesmo ser adequado para cantar na igreja, de acordo com aquilo que foi dito.

(Do Prefácio de Calvino para o Saltério de Genebra de 1543)


João Calvino comentando I Coríntios 14:15: "Quando ele diz, cantarei salmos, ou, cantarei, ele faz uso de uma instância específica, ao invés de uma declaração geral. Pois, como os louvores de Deus eram o assunto dos Salmos, ele quer dizer pelo canto dos Salmos - bendizer a Deus, ou render graças a Ele, porque em nossas súplicas, ou pedimos uma coisa a Deus, ou reconhecemos algumas bênçãos atribuídas a nós. A partir desta passagem, ao mesmo tempo deduzimos, que o costume de cantar já estava nessa altura em uso entre os crentes, como parece também por Plínio, que escrevendo cerca de quarenta anos depois da morte de Paulo, menciona que os cristãos estavam habituados a cantar Salmos a Cristo antes do amanhecer. E eu de facto também não tenho quaisquer dúvidas que desde o início eles adoptaram o costume da Igreja Judaica de cantar Salmos."

Tradução: http://soberanagraca.blogspot.com/

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