Douglas J. Kuiper
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
No último artigo,2 enfatizamos a importância das qualificações para os diáconos como apresentado em Atos 6:3, 5 e 1 Timóteo 3:8-12. Qualquer um instalado no ofício, mesmo os indicados para o ofício, deve satisfazer os requerimentos encontrados nessas porções da Palavra de Deus. Essa é uma questão de obediência ao mandamento de Deus com respeito a como proceder em sua casa.
À medida que continuamos nosso tratamento desse assunto das qualificações dos diáconos, deixe-nos lembrar exatamente o que Deus requer que o diácono seja. Lemos em 1 Timóteo 3:8-12: "Semelhantemente, quanto a diáconos, é necessário que sejam respeitáveis, de uma só palavra, não inclinados a muito vinho, não cobiçosos de sórdida ganância, conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Também sejam estes primeiramente experimentados; e, se se mostrarem irrepreensíveis, exerçam o diaconato. Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo. O diácono seja marido de uma só mulher e governe bem seus filhos e a própria casa".
Você está impressionado com o alto padrão que Deus coloca para alguém que possui o ofício de diácono? Examinando as qualificações uma vez mais, penso de quantas pessoas você conhece que as satisfaça. O diácono deve ser um homem sério, digno e honroso. Diáconos, você são assim? Outras pessoas diriam que isso é verdadeiro quanto a vocês? O diácono deve guardar a sua língua – aquele pequeno membro que acende grande fogo, e que todos nós usamos pecaminosamente às vezes. Ele não deve ser cobiçoso – mas sabemos que nossos corações são gananciosos por natureza. Agora vem o obstáculo real: irrepreensível! Diáconos, vocês são assim? E então, embora talvez isso não pareça tão alto quanto "irrepreensível": conservando o mistério da fé com a consciência limpa. Ele deve ser um crente – alguém que conheça sua fé, e a viva com consciência pura! Depois sua vida em casa deve ser considerada. Ele governa bem sua casa e filhos? E se isso não for suficiente, vamos observar sua esposa. Ela é séria? Guarda a sua língua? É uma crente verdadeira e instruída?
Se um diácono entende realmente a importância dessas qualificações, e guarda-as no coração, examinando a si mesmo à luz delas, ele poderia se perguntar: não é impossível para um homem ser verdadeiramente qualificado? Deus colocou diante de nós algo que é sequer alcançável? Como pode um homem ser essas coisas? E o que fazer se não for?
Claramente, Deus estabelece um padrão alto para os diáconos. Muito alto!
Nem é menor esse padrão, com respeito à piedade e espiritualidade dos diáconos, que aquele exigido por Deus dos presbíteros. Alguém poderia ser tentado a dizer, tendo lido as qualificações para os diáconos em 1 Timóteo 3:8-12 e aquelas para os presbíteros em 1 Timóteo 3:2-7, que o padrão para os diáconos é realmente inferior. Afinal, a lista é menor, e vários requerimentos para os presbíteros não são, aparentemente, requerimentos para os diáconos. O fato é, contudo, que o padrão para diáconos é tão alto quanto.
Note que muitos dos requerimentos para os presbíteros e diáconos são os mesmos. Presbíteros e pastores também devem ser irrepreensíveis (v. 2). Essa é comprovadamente a qualificação fundamental e sumária para presbíteros e diáconos; abrange todas as outras. É o primeiro requerimento listado para os bispos, e o último requerimento pessoal para os diáconos (excluindo suas qualificações familiares). Se "irrepreensível" cobre tudo, e se é requerido de presbíteros e diáconos, então o padrão é tão alto para os diáconos como o é para os presbíteros. Mas outros requerimentos são iguais também; o presbítero nem o diácono podem ser dados ao vinho ou cobiçosos (vv. 3, 8), e ambos devem estar firmemente no controle de seus lares (vv. 4, 12).
Que o padrão para os diáconos não é menor que aquele para os presbíteros é também mostrado pelo fato que a lista para os diáconos inclui requerimentos não encontrados na lista de qualificações para os presbíteros: os diáconos não devem ter "língua dobre" (v. 8, ARC), e suas esposas devem satisfazer certos requerimentos também! 1 Timóteo 3 não faz nenhuma menção das qualidades que a esposa do presbítero deve possuir. Não que o tipo de esposa de um presbítero não tenha importância; suas esposas também devem ser piedosas, satisfazendo as características apresentadas no versículo 11. Mas a adição de certas qualificações na lista do diácono mostra que o padrão para eles é tão alto quanto o dos presbíteros.
A razão pela qual o padrão para os diáconos não é menor que a dos presbíteros, e a prova conclusiva desse fato, é que todos os ofícios na igreja são posições de serviço a Cristo, e que todo oficial deve ser como Cristo. Esse é um alto padrão.
O padrão é muito alto? Se a igreja de Jesus Cristo segue esse padrão, terá ela alguma vez diáconos?
Alguns têm argumentado que nenhum homem nessa vida pode alcançar esse padrão; nenhum homem está realmente qualificado para ser um diácono. Somos todos pecadores, e ninguém pode atingir completamente esse padrão.
É bom que alguém esteja bastante ciente do pecado, e da corrupção que permanece na natureza do filho regenerado de Deus que ainda não foi glorificado. Mas é verdade que nenhum homem nesta vida está realmente qualificado para o diaconato, pois o padrão é muito alto para um pecador alcançar? Um perigo prático de tal visão é que a igreja ignorará os requerimentos de Deus ao escolher diáconos, e colocará homens no ofício que são indignos. Isso não trará a bênção de Deus sobre a obra desse diaconato. O perigo teológico é que podemos esquecer que Deus determinou dar à sua igreja diáconos do tipo prescrito em 1 Timóteo 3 – diáconos qualificados! Ele lhe dará os tais, pois ela necessita deles, e ele prometeu fazê-lo. Sua obra de misericórdia será desempenhada por homens semelhantes a Cristo.
Cremos, portanto, que um homem chamado por Deus para o ofício de diácono pode alcançar esse alto padrão e pode ser qualificado para o ofício. Deus velará por isso!
Como podemos estar certos que Deus velará por isso? Porque desde toda a eternidade Deus, ao chamar homens para esse ofício, determinou que certos homens deveriam servir em sua igreja como diáconos, num tempo particular ou outro na história, e numa congregação particular de sua igreja ou outra. Deus, desde toda a eternidade, determinou que no ano 2001, certos homens deveriam ser diáconos nas congregações que constituem as Igrejas Protestantes Reformadas. E no tempo, Deus, ao chamar homens para esse ofício, prepara-os para essa obra, dando-lhes vários dons, tanto espirituais como intelectuais. Agora esses homens, assim dotados por Deus, são aqueles que devem ser colocados no ofício pela igreja. Deus, ao dar essa lista de qualificações, dirige a igreja aos próprios homens que ele providenciou para a nossa necessidade, que realizarão a obra de misericórdia.
Cremos absolutamente que um homem pode ser qualificado para o ofício somente pela graça soberana de Deus. Ninguém, em e de si mesmo, sendo um pecador totalmente depravado e espiritualmente morto por natureza, pode jamais atingir esse alto padrão. Ele não poderia nem mesmo começar. Ele está morto! Essa profundidade de sua depravação ressalta o fato que qualquer homem que esteja qualificado para esse ofício, assim está pela graça.
Mas Deus, ao dar as qualificações, entende que ele falou com respeito a homens que por natureza são pecadores. Assim, ele não requer que o diácono seja impecável. "Irrepreensível" é um alto padrão; mas não significa "sem pecado" ou ‘perfeito". Fosse a perfeição requerida, esse padrão seria alto demais para qualquer homem alcançar nesta vida.
Um homem alcança esse alto padrão quando se conduz duma forma exemplar, vive uma vida santificada e piedosa em cada aspecto e em cada esfera de sua vida, ama a Deus e ao seu próximo como a si mesmo, guarda seu corpo e alma em sujeição pelo poder do Espírito, e descansa em Deus e Cristo para receber a força para fazer tudo isso.
Diáconos, vocês alcançaram isso, pela graça de Deus?
De modo ideal, esse alto padrão é um que todo cristão, quer esteja ou não no ofício especial da igreja, satisfaria. Pois o diácono que atingiu esse padrão indica que ele obedeceu fielmente à lei de Deus em toda a sua vida. É requerido que todos façam isso.
Idosos e idosas, garotos e garotas, devem todos ser sóbrios e "sérios" (Tito 2:2-6). Não ter "língua dobre" é viver em obediência ao nono mandamento, requerido de todos nós. Todo santo na igreja de Jesus Cristo não deve "ser inclinado a muito vinho" (Ef. 5:18). Não devemos ser gananciosos, ou "cobiçosos de sórdida ganância"; o oitavo e décimo mandamento requer isso de nós, bem como Hebreus 13:5. Todo filho de Deus deve conhecer a fé, e ter uma consciência pura (Romanos 10:9ss; 2 Tessalonicenses 2:15; Hebreus 10:22; 1 Pedro 3:16). Todos devem ser irrepreensíveis (1 Coríntios 1:8; 2 Pedro 3:14). Todas as mulheres na igreja são chamadas a toda piedade em Tito 2, a qual já nos referimos, e estão sob obediência à lei de Deus. Todos os maridos devem ser marido de uma só mulher (sétimo mandamento), e governar bem seus filhos e casa (Efésios 5:25ss; 6:4).
Certamente, por razões que não daremos nesse artigo, alguns na igreja que satisfazem essas qualificações espirituais, não devem todavia ser considerados para o ofício de diácono, tais como mulheres, neófitos e aqueles que não foram "provados".
Mas de maneira ideal, a igreja deveria ter uma abundância de homens qualificados para o ofício!
Cristãos crentes, vocês estão aptos? Jovens em particular, vocês vivem como deveriam? Ou é o caso que, por causa de como estão vivendo agora, não serão considerados para o ofício? Se isso é verdade quanto a vocês, é para a vossa vergonha!
O padrão para os diáconos é muito alto; mas o padrão para alguém que se chama um cristão é igualmente alto, e pode ser atingido somente pela graça de Deus.
O que fazer se houverem muitos homens qualificados numa congregação? Esse é geralmente o caso em nossas igrejas, como tenho percebido; e essa é uma razão de gratidão a Deus. Então os homens que se excedem, os melhores qualificados, devem ser postos no ofício. O julgamento quanto a quem é o melhor qualificado cabe, sem dúvida, ao concílio que nomeia, e a congregação que por seu silêncio aprova a nomeação e então vota a favor dela. E aqueles homens que não foram eleitos nessa reunião, mas desejam o ofício, deveriam continuar sendo homens piedosos, entendendo que Deus, se for da sua vontade, os colocará no ofício num tempo futuro.
E o que fazer se existe somente uns poucos homens qualificados? Então os diáconos devem ser escolhidos dentre esse grupo. Uma igreja que determina ter seis diáconos, mas encontra somente quatro que verdadeiramente satisfazem o padrão, deveria ter somente quatro diáconos, ao invés de colocar no ofício homens que não são qualificados, apenas para suprir sua cota.
E se não houver nenhum homem na congregação qualificado para o ofício? Essa seria deveras uma triste situação. Se o grupo não é uma congregação oficialmente organizada, mas deseja se organizar, esta pergunta deve ser feita: existem homens qualificados? Se não, o grupo não deve receber a permissão de se organizar. Isso está de acordo com o Artigo 38 da Ordem da Igreja,3 e as decisões tomadas pela PRC4 que foram anexadas a ela (uma carta de requisição de um grupo desejando se organizar tendo chegado ao concílio, "O concílio deverá assim deliberar se tal organização é possível ou desejável, observando se existe, entre os signatários, pessoas aptas para membros consistórios…"). Se uma congregação organizada se encontra numa situação na qual não tem nenhum homem qualificado para o diaconato, provavelmente ela não tenha nenhum para o presbitério. Se acontecer de todos os seus homens qualificados serem presbíteros, ela deveria considerar chamar um ou dois deles para serem diáconos. Mas provavelmente, ela não terá nenhum homem qualificado para tais ofícios; e então deve ser colocada sob os cuidados de um consistório vizinho (Ordem da Igreja, Artigos 38 e 39).
E o diácono que está atualmente no ofício, mas não satisfaz esse padrão? Se era anteriormente qualificado, mas enquanto no ofício comete um pecado grosseiro que lhe torna inapto, ele deve ser suspenso ou deposto, de acordo com os Artigos 79 e 80 da nossa Ordem da Igreja. Se ele nunca foi apto como deveria, mas foi colocado no ofício, ele tem esse chamado: ser qualificado! Isto é, enquanto puder e confiar na graça de Deus, ele deve se esforçar sinceramente para fortalecer as áreas nas quais é fraco. Falhando em fazer isso, não deve ser considerado novamente para o ofício após seu mandato acabar.
Mas devemos terminar com uma nota encorajadora.
Invariavelmente, o filho de Deus vê que, devido à sua natureza pecaminosa, ele não tem obedecido à lei de Deus perfeitamente, como deveria. E invariavelmente, o diácono que examina seu coração à luz desses requerimentos verá áreas nas quais fracassa, mesmo se essas estiverem somente em seu coração. O filho de Deus, vendo o seu pecado, deve encontrar o perdão para os seus pecados e natureza pecadora na cruz de Jesus Cristo, e deve desejar graça e força para crescer em santificação. Assim também para o diácono. Ele deve colocar um exemplo para toda a igreja sendo rápido em confessar seus pecados, encontrar o perdão em Cristo, e buscar o perdão de alguém contra quem pecou. E ele deve professar e demonstrar que diariamente busca a graça de Deus para crescer em santificação, esperando plenamente que receberá essa graça, por causa de Cristo. Enquanto faz isso, descansa assegurado que Deus continuará a usá-lo, fraco como ele é, para o bem-estar da igreja.
Deus equipa a quem ele chama!
O padrão é alto. Deus o sabe! E ele proverá homens para esse ofício em sua igreja.
1E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em agosto/2007.
2As Qualificações dos Diáconos (1): Um Assunto Importante 3Disponível em http://www.prca.org/church_order.html (Nota do tradutor) 4Protestant Reformed Church.
Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui