David Engelsma
The Federal Vision, Steve Wilkins e Duane Garner, editores. Monroe, Louisiana: Athanasius Press, 2004. 299 páginas.
Escrito por vários dos principais proponentes da heresia agora solidamente entricheirada na maioria das reputadamente igrejas conservadoras Presbiterianas e Reformadas, e em expansão, A Visão Federal defende audaciosamente a justificação pelas obras; o pacto da graça universal a todos os filhos de pais crentes, se não a cada pessoa aspergida com água em nome do Deus triuno; uma eleição para a graça que falha em salvar; a regeneração batismal; e a perdição de muitos que foram uma vez unidos a Cristo. Entre os autores estão Steve Wilkins, John Barach, Rich Lusk, Peter J. Leithart, Steve Schlissel, James Jordan e Douglas Wilson.
O movimento que chama a si mesmo de a "visão federal" ensina a justificação pela obediência do pecador. "As pressuposições subjacentes à declaração de Paulo [em Romanos 2:13] incluíam os fatos de que a Lei é ‘obedecível’, que responder verdadeiramente à Lei (a Palavra) em fé justifica" (Schlissel, 260). Romanos 2:13 declara que "os que praticam a lei hão de ser justificados". O comentário de Schlissel sobre o texto, que a "Lei é ‘obedecível’", afirma a justificação pelas obras da obediência à lei.
Schlissel nega que Romanos 3:28 tenha alguma e todas as obras humanas em vista quando a passagem fala das "obras da lei". Antes, a referência é somente às obras "judaicas", isto é, obras cerimoniais feitas com o motivo de merecer a salvação (260-261). De acordo com Schlissel, o apóstolo exclui meramente as obras "judaicas" da justificação. Outras obras, obras realizadas pelo crente no poder da verdadeira fé, estão inclusas na justificação. O apóstolo Paulo conclui que um homem é justificado pela fé sem as obras—toda e qualquer obra. Steve Schlissel conclui que um homem é justificado pela fé com obras—obras realizadas pela fé.
Peter Leithart acusa a Reforma de distorcer a verdade da justificação: "A doutrina da justificação da Reforma tem ilegitimamente estreitado e em alguma extensão distorcido a doutrina bíblica" (209). A distorção é a distinção rígida feita pela Reforma entre a justificação e a santificação e sua insistência de que a justificação é um veredicto (211, 213). Leithart argumenta que justificação na Escritura tem "um escopo muito mais amplo de aplicação do que o estritamente judicial" (209). De fato, de acordo com Leithart, "justificação nunca é meramente declarar um veredicto" (213; a ênfase é do autor). Justificação é também a obra santificadora de Deus dentro do pecador, capacitando-o a realizar boas obras, que então se torna parte de sua justiça com Deus, como Roma tem ensinado nos últimos quinhentos anos.
A "visão federal" ensina que a graça salvadora de Deus em Cristo é universal dentro da esfera do pacto, mas que essa graça pode ser resistida e perdida. Todos que são batizados, particularmente todo filho de pais crentes que é batizado, é unido de maneira salvadora a Cristo, embora muitos caiam mais tarde e pereçam:
Membros não-eleitos do pacto são realmente trazidos a Cristo, unidos a ele e à igreja no batismo, recebem várias operações graciosas do Espírito Santo, e pode até mesmo ser dito serem amados por Deus por um tempo... Num sentido, eles estavam realmente unidos ao povo eleito, realmente santificados pelo sangue de Cristo, e realmente recipientes da nova vida dada pelo Espírito Santo. Os sacramentos que eles receberam tinham força objetiva e eficaz [Lusk, 288].
Deus traz verdadeiramente aquelas pessoas para o seu pacto, para a união com Cristo. Elas estão "nele," para usar as palavras de Jesus em João 15. Elas compartilham de suas bênçãos (pense em Hebreus 6). Elas experimentam seu amor, mas essa relação pactual é condicional. Ela exige arrependimento, fé e nova obediência. A escolha de Deus não foi condicional, mas a vida no pacto é [Barach, 37; a ênfase é do autor].
A nova teologia do pacto nas igrejas Reformadas e Presbiterianas ensina que a eleição falha em salvar muitos daqueles que Deus escolhe. Ela ensina que a eterna eleição de Efésios 1:4 e Colossenses 3:12 falha em salvar muitos daqueles que são os objetos dessa escolha graciosa. "E, todavia, nem todos que estão unidos ao Eleito, Jesus Cristo, permanecem nele e cumprem a alta vocação que a eleição traz com ela. Deve-se ver ainda quem irá perseverar e quem irá cair dentre o povo eleito" (Lusk, 294).
O movimento ensina a regeneração batismal. A cerimônia de aspergir com água em nome do Deus triuno efetua a regeneração e salvação temporária de todo batizado. Ela efetua a regeneração pelo poder do Espírito, mas a cerimônia regenera e salva todos que são batizados, particularmente todo infante de pais piedosos. Essa regeneração e salvação podem ser perdidas. "O limiar para a união com Cristo, a nova vida no Espírito, e a membresia pactual na família de Deus é realmente atravessada quando a criança é batizada" (Lusk, 109).
Os advogados da "visão federal" ensinam a queda dos santos do pacto da graça salvadora do pacto. Eles ensinam a queda dos santos agressivamente. A queda dos santos do pacto é uma das suas doutrinas favoritas:
Aqueles que ultimamente provam ser reprovados podem estar no pacto com Deus. Eles podem desfrutar por um tempo as bênçãos do pacto, incluindo o perdão dos pecados, a adoção, a possessão do reino, a santificação, etc., e, todavia, apostatar e cair da graça de Deus [Wilkins, 62].
Claramente, então, Hebreus 6:4-8 ensina a possibilidade de uma apostasia real. Algumas pessoas de fato caem, e essa é uma queda real, e da graça. Os apóstatas realmente perdem as bênçãos que eles uma vez possuíram. A apostasia é tão terrivelmente horrível porque ela é um pecado contra a graça [Lusk, 274; a ênfase é do autor].
Lusk consegue incorporar todas as falsas doutrinas acima mencionadas num parágrafo que poderia ter sido escrito por James Arminius ou pelo Cardeal Bellarmine:
Todos os membros do pacto são convidados a alcançar uma plena e robusta confiança de que eles foram eternamente eleitos por Deus. Começando com os seus batismos, eles têm toda razão para crer que Deus os ama e deseja a eterna salvação deles. O batismo os marca como o povo de Deus, um status que eles mantêm enquanto eles perseverarem em fidelidade. Olhando para Cristo somente, o preeminentemente Eleito, Aquele que guardou o pacto até o fim e é o Autor e Consumador da fé do povo de Deus, eles podem encontrar segurança. Mas aqueles que tiram os seus olhos de Cristo, que abandonam a Igreja onde sua presença é encontrada, que esquecem os meios externos de salvação, naufragarão em sua fé e provarão ter recebido a graça de Deus em vão [289].
A "visão federal" rejeita a graça soberana na esfera do pacto. Na esfera do pacto, particularmente entre os filhos de crentes, a eleição falha, Cristo morreu por todos, a graça é resistível, a justificação é pelas obras, os santos salvos caem para perdição, e a salvação depende da vontade do pecador.
A raiz da heresia é uma doutrina errônea do pacto. A doutrina do pacto sendo desenvolvida pelo movimento ensina que Deus fez graciosamente seu pacto com todos os filhos dos crentes da mesma forma. Na esfera do pacto, com respeito a todos os bebês batizados sem exceção, a graça é universal. O movimento é um de universalismo pactual. Mas o pacto é condicional. Se o pacto continua com uma criança, se uma criança continua no pacto, se uma criança continua a desfrutar da união com Cristo e do pacto da graça, e se uma criança é finalmente salva pela graça do pacto, dependem da fé e obediência da criança. O movimento é totalmente arminiano na área do pacto.
Em resumo, o erro de onde toda a negação da graça soberana, particular e irresistível brota é uma doutrina do pacto que recusa permitir a eleição de Deus para controlar a graça e a salvação do pacto.
[Hebreus 6 e] passagens similares simplesmente falam da graça indiferenciada de Deus [Lusk, 275, 276; a ênfase é do autor].
Deus traz verdadeiramente aquelas pessoas para o seu pacto, para a união com Cristo. Elas estão "nele," para usar as palavras de Jesus em João 15. Elas compartilham de suas bênçãos (pense em Hebreus 6). Elas experimentam seu amor, mas essa relação pactual é condicional. Ela exige arrependimento, fé e nova obediência. A escolha de Deus não foi condicional, mas a vida no pacto é [Barach, 37; a ênfase é do autor].
Estar no pacto é ter os tesouros da misericórdia, da graça e do amor de Deus que ele tem para o seu próprio Filho dar a você. Mas o pacto não é incondicional. Ele requer fidelidade perseverante... O pacto é dependente da fé perseverante [Wilkins, 64, 65; a ênfase é do autor].
Nosso pacto salvador com o Senhor é como um casamento. Se perseverarmos em lealdade a Cristo, vivemos com ele felizmente para sempre. Se quebrarmos o pacto do casamento, ele se divorciará de nós [Lusk, 285-286].
Os credos Reformados não significam nada para esses homens, embora todos eles protestem em alta voz que são Reformados. Os Cânones de Dordt rejeitam a heresia arminiana de que "há uma eleição para fé e outra para salvação. Portanto, eleição pode ser para a fé justificante, sem ser decisiva para a salvação." A razão é que esse ensino é
uma invenção da mente humana, sem nenhuma base na Escritura. Essa invenção corrompe a doutrina da eleição e quebra a corrente de ouro da nossa salvação. "E aos que predestinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou" (Romano 8:30).[Cânones de Dordt, I, Rejeição de Erros/2].
Contradizer os Cânones e quebrar a "corrente de ouro da nossa salvação" não incomoda nenhum pouco a Rich Lusk. Com um apelo (sem provas) a Agostinho, ele distingue uma "predestinação para graça," que é somente temporária e "não leva à salvação final," de uma "predestinação para perseverança," que resulta na salvação final (275).
Com arrogante indiferença para com o ensino dos credos Reformados, James B. Jordan nega que Jesus mereceu salvação para o seu povo. "Em nenhum lugar [na Escritura] a consumação de Jesus é mencionada como salvação obtida" (192). "O que recebemos não é dos méritos de Jesus, mas de sua maturidade, sua glorificação" (195).
A presença de James Jordan no livro é significante. Jordan é um dos cristãos reconstruticionistas da velha-guarda, envolvido no vexame na cidade de Tyler, Texas, onde uma tentativa antiga de trazer o reino terreno da Reconstrução Cristã fracassou logo no início. Jordan conecta o movimento original da Reconstrução Cristã com sua manifestação contemporânea. Não deve ser negligenciado que a maioria dos homens da "visão federal" são fanáticos em favor da Reconstrução Cristã pós-milenista.
James B. Jordan é a espécime mais selvagem iniciada pela Reconstrução Cristã. Sua especialidade é exegese alegórica e fantástica. Em comparação com Jordan, Orígenes e Harold Camping são cuidadosos. De acordo com Jordan, Adão no Paraíso eventualmente teria comido o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal com a aprovação de Deus. Adão então teria morrido uma "boa-morte". Por essa "boa-morte" ele teria sido glorificado, amadurecendo para a vida eterna. Isso teria capacitado Adão a enfrentar o dragão por um tempo no mundo não-caído de forma geral. Mas Adão não teria precisado de ajuda. A ajuda teria aparecido na forma, não de Santo George ou Frodo, mas do Filho de Deus encarnado. O Filho eterno teria se tornado encarnado se Adão tivesse permanecido obediente. Mas o Filho encarnado teria que ter passado da mesma forma pela "boa-morte" ao comer o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, de forma que ele pudesse ser também "amadurecido". Essa fantasia é ainda mais embelezada por Jordan com teorias impressionantes sobre vestuários e distinções entre animais, vegetais e minerais (151-200).
Se James Jordan é o exegeta da "visão federal", o movimento não é somente herético, mas também absurdo.
O absurdo é ininteligível.
A ininteligibilidade teológica não perturba Rich Lusk. Traçando bravamente a conclusão inevitável da sua premissa de que a Bíblia não é lógica, Lusk está contente em "viver com um mistério indefinível" (279). "Mistério indefinível" é a linguagem da "visão federal" para ignorância. A área específica na qual Lusk está contente em seu "mistério indefinível" é a doutrina bíblica da perseverança dos santos. Lusk realmente admite que sua doutrina de uma Bíblia ilógica, que é cheia de contradições, particularmente com respeito à perseverança dos santos, é derivada de seu método "bíblico-teológico/redentivo-histórico" de interpretar a Bíblia, em oposição ao que Lusk chama de um método "sistemático/dogmático" (280).
De fato, o "mistério indefinível" de Lusk é devido à sua negação que a Sagrada Escritura como a Palavra de Deus inspirada seja não-contraditória e lógica, tão nãocontraditória e lógica como o Deus daquela Palavra é. Como a Palavra de Deus escrita, a Escritura é a revelação clara, afiada e certa, particularmente da preservação de Deus para a glória de todo recipiente de sua graça. A Escritura é clara, afiada e certa para a fé.
Ficou para Steve Schlissel o fazer o ataque mais depreciativo contra o Evangelho da graça. Schlissel chama o conhecimento de Lutero de si mesmo como um pecador culpado diante de um Deus justo, a partir do qual conhecimento operado pelo Espírito veio seu entendimento do Evangelho da justificação pela fé somente, de "a doença de Lutero" (255). Doença de Lutero! Justificação pela fé somente, portanto, é uma doutrina doentia. Visto que a justificação pela fé somente é a pedra angular de todo o Evangelho da Reforma, todo o Evangelho da Reforma da graça soberana é doentio.
Essa "doença," os homens da "visão federal" estão determinados a curar por uma infusão massiva de obras de justiça na teologia das igrejas Presbiterianas e Reformas e na vida espiritual do povo Presbiteriano e Reformado. O artifício pelo qual as obras de justiça são injetadas na circulação do sangue das igrejas e pessoas influenciadas pela "visão federal" é a doutrina de um pacto condicional.
A heresia da "visão federal" é profunda e ampla. Ela penetra no coração do Evangelho, e se estende a todas as doutrinas da graça. Ela pode ser refutada e arrancada pela raiz somente pela doutrina de um pacto de graça incondicional e particular. E esse é o porquê as igrejas Presbiterianas e Reformadas onde a heresia é ousadamente ensinada são tanto indispostas como incapazes de resisti-la.
1Visão: 1a: Algo visto num sonho, transe, ou êxtase; especialmente uma aparição sobrenatural que transmite uma revelação; b: um objeto de imaginação ... 2ª: o ato ou poder de imaginação ..."
Fonte: "The Federal Vision," an appendix from The Covenant of God and the Children of Believers.
Traduzido por: Felipe Sabino de Araújo Neto / felipe@monergismo.com, Cuiabá-MT, 08 de janeiro de 2006.
Para material Reformado adicional em Português, por favor, clique aqui