Herman Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto / felipe@monergismo.com
Uma objeção contra o batismo infantil, que é
frequentemente levantada por defensores do batismo apenas de crentes, é
o fato que no Antigo Testamento somente os homens eram circuncidados,
enquanto que no Novo Testamento tanto os homens como as mulheres são
batizados. O argumento é mais ou menos assim: se o batismo tomou o lugar
da circuncisão, então deveria haver uma correlação entre a administração
do sinal no Antigo Testamento e no Novo Testamento, até onde diz
respeito aos participantes. Então, no Antigo Testamento o sinal do pacto
deveria ter sido administrado aos meninos e meninas, como o batismo no
Novo Testamento.
Em resposta, chamaremos a atenção para vários pontos.
Sem dúvida, a diferença no sinal tem a ver com a natureza da antiga dispensação. Deus escolheu a circuncisão como um sinal do pacto no Antigo Testamento. Não somos informados na Escritura do por que Deus escolheu este sinal, em distinção de outros sinais possíveis que poderia ter escolhido, e qualquer resposta à questão seria de certa forma especulativa. Há duas razões possíveis do por que Deus escolheu a circuncisão como um sinal do pacto na antiga dispensação.
Primeiro, o sinal da circuncisão era um sinal sangrento. Uma grande quantia de sangue foi derramada na antiga dispensação, pois Deus queria lembrar o seu povo durante todo o tempo que sem o derramamento de sangue, não há remissão de pecados (Hebreus 9:22). Um sinal sangrento do pacto reforçaria este ensino geral.
Segundo, em íntima relação com o derramamento de sangue, a natureza do sinal realizado no órgão de geração era uma lembrança constante ao Israel crente de que eles eram incapazes de gerar a semente do pacto por geração, concepção e nascimento natural. Eles eram capazes de gerar somente filhos da carne, filhos mortos em pecado. Para gerar o filho do pacto, o verdadeiro filho do pacto, requer-se uma maravilha da graça, o milagre que Deus realiza tanto na antiga dispensação como na nova.
Agora, se é correto que esta é, pelo menos em parte, a razão pela qual Deus escolheu a circuncisão como um sinal do pacto no Antigo Testamento, então é lógico que este sinal poderia ser dado somente aos homens. Contudo, isto não deve ser interpretado como sendo um corolário infeliz da natureza do sinal que Deus escolheu. O fato é que a linha do pacto foi continuada pelos homens. Os homens ocupavam uma posição de importância especial no Antigo Testamento. Se alguém ler as genealogias no Antigo Testamento, essa pessoa só poderá se impressionar com o fato de que somente os homens são mencionados. A exceção disto é a genealogia em Mateus 1, onde cinco mulheres são mencionadas. Estas mulheres são únicas na linha do pacto. Tamar gerou a semente do pacto através de um ato de adultério; Raabe e Rute eram estrangeiras, e Raabe era uma prostituta pública na cidade de Jericó; Bate-Seba era a esposa de Urias, de quem Davi roubou por adultério e assassinato; Maria foi a mãe de Cristo. Mas no resto da Escritura, as genealogias são limitadas aos homens.
É interessante notar que os teólogos reformados geralmente tomam a posição de que as mulheres estavam inclusas nos homens, e assim, participavam no sacramento do Antigo Testamento.1 No Novo Testamento, as mulheres foram levantadas a uma posição mais alta no pacto de Deus, pois elas, também, juntamente com os homens, recebem o Espírito derramado por Cristo. Pedro cita a profecia de Joel em Pentecoste, e enfatiza essa mesma verdade: "... vossos filhos e vossas filhas profetizarão... até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão" (Atos 2:17,18 [ênfase adicionada]).
Não é estranho, portanto, que o sinal do batismo seja dado tanto aos homens como às mulheres no Novo Testamento. E o batismo é o sinal apropriado na nova dispensação, pois como a água limpa o corpo da sujeira, assim o sangue de Cristo nos limpa de todo pecado.
1Cf. John Calvin, Institutes of the Christian Religion, tr. Henry Beveridge (Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1966), IV, xvi, 16.
Fonte: We and Our Children: The Reformed Doctrine of Infant Baptism, Herman Hanko. second edition [Grand Rapids: Reformed Free Publishing Association], páginas 128-130.
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