Arthur W. Pink
A vontade revelado de Deus é feita conhecida em Sua Palavra, mas Sua
vontade secreta são Seus próprios conselhos encobertos. A vontade
revelada de Deus é o definidor de nosso dever e o padrão de nossa
responsabilidade. A primária e básica razão pela qual eu devo seguir
certo curso ou fazer certa coisa é por causa da vontade de Deus,
a Sua vontade sendo claramente definida para mim em Sua Palavra. Que eu
não deveria seguir um certo curso, que eu devo me abster de fazer certas
coisas, é porque elas são contrárias à vontade revelada de Deus.
Mas suponha que eu desobedeça a Palavra de Deus, então, eu não
contrario Sua vontade? E se é assim, como pode ainda ser verdade que
a vontade de Deus sempre é feita e Seu conselho consumado todas
as vezes? Tais questões fazem evidente a necessidade de se defender uma
distinção aqui. A vontade revelada de Deus é freqüentemente
contrariada, mas Sua vontade secreta
nunca é frustrada. Que é legítimo fazermos tal distinção
concernente à vontade de Deus, é clara a partir das Escrituras. Tome
esta duas passagens: "Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa
santificação: que vos abstenhais da prostituição" (1 Tessalonicenses
4:3); "Dir-me-ás então. Por que se queixa ele ainda? Pois, quem resiste
à sua vontade?" (Romanos 9:19). Pode um leitor pensativo declara que a
"vontade" de Deus tem precisamente o mesmo significado em ambas dessas
passagens? Nós seguramente esperamos que não. A primeira passagem
refere-se à vontade revelada de Deus, a última à Sua vontade secreta. A
primeira passagem concerne a nosso dever, a última declara que o
propósito secreto de Deus é imutável e deve acontecer não obstante a
insubordinação das Suas criaturas. A vontade revelada de Deus nunca é
perfeitamente ou completamente realizada por alguém de nós, mas Sua
vontade secreta nunca falha na consumação até mesmo no mais minucioso
detalhe. Sua vontade secreta concerne principalmente a eventos
futuros; Sua vontade revelada, nosso dever presente: uma tem
que ver com Seu irresistível propósito, o outro com Seu agrado
manifestado: uma é elaborada sobre nós e realizada através de nós, a
outra é para feita por nós.
A vontade secreta de Deus é Seu eterno, imutável
propósito concernente a todas as coisas que Ele fez, para produzir
certos meios para seus fins apontados: disto Deus declara
explicitamente: "Meu conselho subsistirá, e farei toda Minha
vontade" (Isaías 46:10). Esta é a absoluta, eficaz vontade de Deus,
sempre efetuada, sempre realizada. A vontade revelada de Deus contêm não
Seu propósito e decreto, mas nosso dever, - não o que Ele fará de
acordo com Seu eterno conselho, mas o que nós deveríamos faze se
quiséssemos agradá-LO, e isto é expresso nos preceitos e promessas de
Sua Palavra. O que quer que Deus tenha determinado consigo mesmo, seja
para Ele próprio fazer, ou para fazer pelos outros, ou tolerar que seja
feito, enquanto isto está em Seu próprio seio, e não foi feito conhecido
por algum evento na providência, ou por preceito, ou por profecia, é Sua
vontade secreta. Tais são as coisas profundas de Deus, os pensamentos de
Seu coração, os conselhos de Sua mente, que são impenetráveis para todas
criaturas. Mas quando estas coisas são feitas conhecidas, elas tornam-se
Sua vontade revelada: tal é quase todo o livro do Apocalipse, no qual
Deus tem feito conhecido a nós "coisas que brevemente devem acontecer"
(Apocalipse 1:1 - "deve" porque Ele eternamente propôs que deveriam
acontecer).
Tem sido objetado pelos teólogos Arminianos que a divisão da vontade de
Deus em secreta e revelada é insustentável, pois ela faz com que Deus
tenha duas vontades diferentes, uma oposta a outra. Mas isto é um
engano, devido a falha deles em ver que a vontade secreta e revelada de
Deus dizem respeito a objetos inteiramente diferentes. Se Deus
requeresse e proibisse a coisa, ou se Ele decretasse que a mesma coisa
aconteceria ou não, então Sua vontade secreta e revelada seria
contraditória e sem propósito. Se aqueles que objetam à vontade secreta
e revelada de Deus como sendo inconsistentes, fizessem a mesma distinção
neste caso que eles fazem em muitos outros casos, a aparente
inconsistência imediatamente desapareceria. Quão freqüentemente os
homens traçam uma astuta distinção entre o que é desejável em sua
própria natureza, e o que não é desejável considerando todas as
coisas. Por exemplo, o pai carinhoso não deseja simplesmente
considerar punir seu filho ofensivo, mas, considerando todas as
coisas, ele sabe que este é o seu dever obrigatório, e assim corrige
seu filho. E embora ele conte ao seu filho que ele não deseja
castigá-lo, mas que ele está certo que isto é o melhor ao fazer
considerando todas as coisas, então um filho inteligente verá que
não há inconsistência entre o que o pai diz e faz. Exatamente assim o
Criador Todo-sábio pode consistentemente decretar acontecer coisas que
Ele odeia, proibir e condenar. Deus escolhe que algumas coisas existem
que Ele odeia completamente (na intrínseca natureza delas), e Ele também
escolhe que algumas coisas, todavia não existam, as quais Ele ama
perfeitamente (na intrínseca natureza delas). Por exemplo: Ele ordenou
que Faraó deixasse Seu povo ir, porque isso era justo na natureza das
coisas, todavia, Ele secretamente havia declarado que Faraó não
deveria deixar o Seu povo ir, não porque era justo em Faraó recusar, mas
porque era melhor considerando todas as coisas que ele não
os deixasse ir - isto é, melhor porque favoreceu um propósito mais amplo
de Deus.
Novamente; Deus nos manda sermos perfeitamente santos nesta vida (Mateus
5:48), porque isto é justo na natureza das coisas, mas Ele
decretou que nenhum homem será perfeitamente santo nesta vida, porque é
melhor, considerando todas as coisas, que ninguém seja
perfeitamente santo (experimentalmente) antes de deixar este mundo.
Santidade é uma coisa, o acontecimento da santidade é outra; assim,
pecado é uma coisa, o acontecimento do pecado é outra. Quando Deus
requer santidade, Sua vontade preceptiva ou revelada considera a
natureza ou excelência moral da santidade; mas quando Ele decreta que a
santidade não ocorra (completa e perfeitamente), Sua vontade secreta ou
decretiva considera somente o evento de que ela não ocorre. Assim,
novamente, quando Deus proíbe o pecado, Sua vontade preceptiva ou
revelada considera somente a natureza ou o mal moral do pecado; mas
quando Ele decreta que o pecado ocorrerá, Sua vontade secreta
considera somente sua real ocorrência para servir o Seu bom propósito.
Portanto, a vontade secreta e revelada de Deus considera objetos
inteiramente diferentes.
A vontade do decreto de Deus não é a Sua vontade no mesmo sentido como
Sua vontade de mandamento é. Portanto, não há dificuldade em supor que
uma possa ser contrária à outra. Sua vontade, em ambos sentidos, é Sua
inclinação. Tudo que concerne a Sua vontade revelada é perfeitamente de
acordo com Sua natureza, como quando Ele ordena amor, obediência, e
serviço de Suas criaturas. Mas o que concerne a Sua vontade secreta tem
em vista Seu fim supremo, para o qual todas as coisas estão agora
operando. Portanto, Ele decreta a entrada de pecado no Seu universo,
embora Sua própria natureza santa odeie todo pecado com infinita
repulsa, todavia, porque este é um dos meios pelos quais Ele apontou o
fim para ser alcançado, Ele tolera a entrada dele. A vontade revelada
de Deus é a medida de nossa responsabilidade e o determinante de nosso
dever. Com a vontade secreta de Deus nós não temos nada para fazer: esta
é de Sua incumbência. Mas Deus, sabendo que falharemos em fazer
perfeitamente Sua vontade revelada, ordenou Seus eternos conselhos
conseqüentemente, e estes eternos conselhos, que aconteça Sua vontade
secreta, embora desconhecida para nós, embora inconscientemente,
cumprida em e através de nós.
Se o leitor está preparado ou não para aceitar a distinção acima na
vontade de Deus, ele deve reconhecer que os mandamentos das Escrituras
declaram a vontade revelada de Deus, e ele deve também aceitar que
algumas vezes Deus não quer impedir a quebra daqueles
mandamentos, porque Ele na realidade não o impede. Que Deus quer
permitir o pecado é evidente, porque Ele o permite. Certamente ninguém
dirá que o próprio Deus faz o que Ele não quer fazer.
Finalmente, deixe-me dizer novamente que, minha responsabilidade em
relação à vontade de Deus é medida pelo que Ele fez conhecido na
Sua Palavra. Ali eu aprendo que é meu dever usar os meios de Sua
providência, e humildemente orar para que Ele possa Se agradar em
abençoá-los para mim. Recusar assim fazer sobre o fundamente de que eu
sou ignorante do que possa ou não possa ser Seus conselhos secretos
concernentes a mim, não somente é um absurdo, mas também o ápice da
presunção. Nós repetimos: a vontade secreta de Deus não nos diz
respeito; é Sua vontade revelada que mede nossa responsabilidade.
Que não há conflito entre a vontade secreta e revelada de Deus é claro a
partir do fato que, a primeira é realizada pelo meu uso dos meios
registrados na última.
NOTA DO TRADUTOR: O presente artigo é um dos apêndices (o quarto) do excelente livro "A Soberania de Deus", de Arthur Pink. Este livro foi traduzido para o português e publicado pela Editora Fiel, com o título "Deus é Soberano". Contudo, não consta na versão brasileira o capítulo sobre "A Soberania de Deus na Reprovação" e nenhum dos quatro apêndices, os quais podem ambos ser lidos aqui no site Monergismo.com.
Tradução livre: Felipe Sabino de Araújo Neto, Cuiabá-MT, 01 de Dezembro de 2003.
Para material adicional de A. W. Pink's The Sovereignty of God em Português, por favor, clique aqui.
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