Covenant Protestant Reformed Church
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Providência e "Graça Comum"

Rev. Ronald Hanko

Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1

 

Em sua providência, Deus provê a todas as suas criaturas (Atos 17:25). Isso significa que Deus dá muitas dádivas aos ímpios, incluindo não somente a chuva e a luz do sol, alimento e abrigo, vida e respiração, mas também uma mente racional, uma vontade e um espírito.

Muitos concluem a partir disso que Deus ama os ímpios e é gracioso para com eles. Essas coisas, dizem eles, são a "graça comum" de Deus, sua graça para todos, uma graça que não os leva à salvação, mas que lhes é todavia um testemunho do favor e amor de Deus por eles. Uma providência comum, contudo, não é a mesma coisa que uma graça comum, e as duas não deveriam ser confundidas. Em nenhum momento a Bíblia usa a palavra graça para descrever essas operações comuns da providência de Deus.

Isso não é negar que as dádivas que Deus dá aos ímpios são dádivas boas (Tiago 1:17). Mas porque Deus lhes dá muitas boas dádivas não significa que ele os ama ou é gracioso para com eles. Dizer que Deus dá boas dádivas aos ímpios não diz nada sobre o porquê Deus dá essas dádivas. A Bíblia ensina que ele tem outras razões que amor ou misericórdia ao dar boas dádivas aos ímpios. Ele lhes dá essas dádivas em sua ira, como uma armadilha para eles (Sl. 11:5; Pv. 14:35; Rm. 11:9), para maldição (Pv. 3:33) e para sua destruição (Sl. 92:7). Por essas dádivas ele coloca-os em lugares escorregadios e os faz cair na destruição (Sl. 73:18 no contexto dos versículos 3-7). Isso é claramente visto na forma como os ímpios usam as dádivas para pecarem contra Deus e se fazerem dignos de condenação.

Isso é tão verdadeiro que somos até mesmo ordenados na Escritura a imitar Deus em nossos comportamentos para com os nossos inimigos—fazer-lhes o bem, e fazer isso no entendimento que se eles não se arrependerem e crerem, nossas boas obras serão para destruição e condenação deles (Rm. 12:20-21).

Não deveria nos surpreender que uma dádiva que é em si mesma boa possa ser dada para tais razões. Se um pai der ao seu filho pequeno uma faca de açougueiro afiada como uma navalha—algo que é indispensável na cozinha—certamente questionaríamos se ele está dando tal "boa dádiva" em amor e misericórdia. A criança certamente usará incorretamente a mesma para a sua própria destruição, assim como os ímpios fazem com cada uma das boas dádivas que Deus lhes dá.

De qualquer forma, talvez o maior perigo no ensino da graça comum é que ela destrói nosso conforto em Deus. Se a chuva e a luz do sol, a saúde e a vida, são graça, o que devemos concluir quando Deus nos envia o oposto: doença, pobreza, aridez ou morte? Essas coisas são sua maldição? Ele as envia porque nos odeia? Se a graça está nas "coisas boas," não temos graça quando Deus não nos envia essas coisas boas? Não devemos antes concluir isso: que tudo o que ele envia a nós, seu povo, quer saúde ou doença, pobreza ou prosperidade, vida, ou morte, ele nos envia em amor e graça e para o nosso bem (Rm. 8:58), mas que tudo o que ele envia aos ímpios, mesmo que em si mesmas sejam "boas," é todavia para a condenação deles? De outra forma, como seríamos confortados em todas as nossas tristezas e aflições?

Fonte (original): Doctrine according to Godliness, Ronald Hanko, Reformed Free Publishing Association, pp. 95-96.

1E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em fevereiro/2007.

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