Covenant Protestant Reformed Church
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A Reprovação e o Beneplácito de Deus (1)

por Herman Hanko

 

Pergunta: "Se Deus sempre se entristece pelo pecado, e sempre expressa a sua justa ira contra ele, nós ainda podemos dizer que a condenação eterna dos réprobos pecadores é parte do seu beneplácito?".

A pergunta é feita a partir do que eu escrevi nas duas últimas edições da circular acerca de Lucas 19.41-44 e Mateus 23.37. Meu interesse estava particularmente na questão do sofrimento de Jesus pela apostasia de Jerusalém. Essas passagens são frequentemente citadas em defesa de uma oferta graciosa e bem-intencionada exibida no evangelho, pela qual Deus manifesta seu desejo de salvar todos os homens com base no seu amor por todos eles.

Apontei que o argumento usado pelos defensores da oferta bem-intencionada do evangelho é que o texto ensina o amor de Deus por todos os homens e seu desejo de salvá-los, pois Jesus chorou pelos pecados da nação de Israel. Assim, o choro de Jesus é a decepção experimentada pelo Senhor perante o fato que a nação rejeitou e desprezou seu amor, e se afastou com repulsa pelas expressões graciosas de Jesus em seu desejo de salvá-los. O sofrimento é evidência das frustrações do seu desejo: ele queria salvá-los, mas não conseguiu.

Eu mostrei que isso é impossível, e coloquei esse texto em conflito com outras passagens das Escrituras ― um conflito, aliás, que não incomoda os defensores da oferta graciosa; eles varrem esses conflitos de lado, apelando a aparentes contradições nas Escrituras.

Expliquei diversos elementos do texto para demonstrar o que ele significa, e no último artigo apontei que a tristeza de Jesus pela iminente destruição de Jerusalém devia-se ao seu descontentamento pelo pecado, e não à decepção pela frustração dos seus desejos. E foi este último texto que levantou a pergunta acima. O ponto do inquiridor é relevante: ele quer saber como é possível Deus amaldiçoar os réprobos em conformidade com o seu próprio beneplácito, e ainda assim ficar entristecido com a incredulidade deles. Este é um ponto chave para entender por que o evangelho não é uma expressão do desejo de Deus de salvar todos os homens a quem chega o evangelho.

Podemos entender esse ponto se tivermos uma compreensão clara do ódio de Deus pelo pecado. A parte negativa da minha resposta é simplesmente esta ― e ninguém discordaria dela: Deus é supremamente santo em seu próprio ser infinito. Sua santidade é tão grande que o pecado é uma abominação terrível aos seus olhos. Ele odeia o pecado e o pecador. Sua santidade exige que o pecado seja punido. No entanto, como alega o arminiano, se Deus tolera o pecado e em grande medida é negligente com ele, ficamos com um deus muito, muito menor que o Santo de Israel.

Ninguém ousaria dizer que Deus se agrada com o pecado. Ninguém alegaria que Deus se alegra com ele só porque Deus ordenou que o pecado entrasse no mundo; ou seja, é seu beneplácito que o homem se torne pecador, e Deus se agrada que o seu propósito seja cumprido. Eu tremo só de escrever as palavras, pois são negações blasfemas da santidade infinita de Deus. Todavia, a pergunta implica exatamente essa possibilidade ― embora eu saiba por certo que não é essa a intenção do inquiridor.

Mas temos de ver o assunto por uma perspectiva positiva. Isso exige de nós, antes de tudo, perceber quão sério é o evangelho quando se trata da ordem de todos se arrependerem e crerem em Cristo. Os Cânones de Dort expressam o assunto da forma mais clara possível: "Mas tantos quantos são chamados pelo Evangelho, seriamente o são. Porque Deus revela séria e sinceramente em sua Palavra o que Lhe agrada, a saber, que aqueles que são chamados venham a Ele" (III/IV:8).

Essa seriedade do chamado ao arrependimento e fé em Cristo é enfatizada nas Escrituras de muitas formas vivas. Em Romanos 10.18-21 (ACF), Paulo escreve: "Mas digo: Porventura não ouviram? Sim, por certo, pois por toda a terra saiu a voz deles, e as suas palavras até aos confins do mundo. Mas digo: Porventura Israel não o soube? Primeiramente diz Moisés: Eu vos porei em ciúmes com aqueles que não são povo, com gente insensata vos provocarei à ira. E Isaías ousadamente diz: Fui achado pelos que não me buscavam, fui manifestado aos que por mim não perguntavam. Mas para Israel diz: Todo o dia estendi as minhas mãos a um povo rebelde e contradizente".

Essa passagem se encontra numa seção (Romanos 9-11) que enfatiza em quase todos os versículos a soberania de Deus na incredulidade dos réprobos. Contudo, o texto também diz que a ordem para arrepender-se dos pecados e crer em Cristo é tão sincera que pode ser descrita como Deus estendendo as suas mãos a Israel.

Em Isaías 5.1-7, Israel é comparada a uma vinha que produziu nada mais que uvas bravas. Todavia, sobre a vinha, diz Deus: "Que mais se podia fazer à minha vinha, que eu lhe não tenha feito?" (5.4). É de fato uma ilustração poderosa, uma ilustração que de forma alguma deve ser minimizada. A seriedade do chamado que vem através da pregação do evangelho deve ser conservada e defendida!

A ordem de Deus, que todos os que ouvem o evangelho se arrependam dos pecados e creiam em Cristo, está enraizada também em sua própria santidade. Se Deus não exigisse, sob a penalidade do inferno, que o homem voltasse de seu mal e cresse em Cristo, Deus deveria ser culpado por tolerar e ser brando com o pecado à custa de sua própria santidade. Deus criou o homem bom e justo, e capaz de em todos os sentidos viver em obediência à vontade de Deus. Que o homem não seja mais capaz de fazer isso não é culpa de Deus, mas culpa da própria maldade do homem e de sua terrível rebelião. Todavia, como insistem todas as confissões reformadas, Deus continua exigindo que o homem o obedeça ― muito embora ele tenha perdido a capacidade de fazê-lo. Dizer que Deus agora, por causa da total depravação do homem, abrandou suas exigências é colocar uma mácula terrível na santidade de Deus. Deus mantém a sua própria santidade ainda que o homem tenha se rebelado. O evangelho faz exatamente isso: exige, com base na santidade de Deus, que o homem abandone seus pecados e creia em Cristo. Qualquer coisa menos que isso faria Deus menor do que ele é.

Mas a questão reside em um nível ainda mais profundo. O inquiridor chama a atenção para isso. As Escrituras ensinam que Deus é soberano não só na eleição, mas também na reprovação. Romanos 9.9-24 não pode ser negado. Está expresso nas Escrituras tão claramente quanto se poderia expressar. Deus é soberano ― não só na eleição de alguns para a eterna bem-aventurança em Cristo, mas também na rejeição de outros de acordo com sua própria determinação soberana.

Tradução: Marcelo Herberts
11/09/2010

Fonte: Covenant Reformed News - August 2010

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