Rev. Herman Hoeksema
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Colocamos-nos sem reserva sobre o ponto de vista do supralapsarianismo e mantemos que ele é a única apresentação bíblica e consistente do decreto da predestinação de Deus. Mas gostaríamos de modificar esse supralapsarianismo de tal forma que ele esteja em harmonia com nosso conceito orgânico das coisas. Devemos enfatizar não tanto o que vem em primeiro ou último lugar no decreto de Deus, mas sim nos colocarmos diante das perguntas: O que nesses decretos é concebido como propósito e o que como meios? Qual é o principal objeto nesses decretos, e o que é subordinado e subserviente a esse objeto principal?
Dessa forma escapamos do perigo de deixar a impressão que existe uma ordem temporal nos decretos de Deus. Em adição, de acordo com nossa apresentação da doutrina da predestinação, podemos abrir o caminho para encontrar uma resposta à pergunta: Por que existe uma reprovação? É verdade que os supralapsarianos dão uma resposta parcial a essa pergunta quando afirmam que Deus desejou criar o ímpio por causa do seu nome e para a manifestação da sua justiça, retidão, poder e ira. Mas isso de forma alguma é a resposta final que pode ser dada a essa pergunta, nem nos satisfaz, pois dessa forma não podemos escapar da impressão que há arbitrariedade em Deus. O réprobo evidentemente não é necessário para revelar o poder, ira e justiça de Deus, pois essas virtudes nunca chegam a uma revelação mais clara e definitiva do que na cruz de Jesus Cristo. Ele certamente satisfez a justiça e a retidão de Deus e suportou toda a sua ira.
Portanto, gostaríamos de apresentar o assunto do conselho da predestinação de Deus da seguinte forma: Deus concebeu e desejou todas as coisas em seu decreto eterno por causa do seu nome, isto é, para a glória do seu nome e reflexo dos seus atributos e virtudes divinas e infinitas. Como o mais sublime em Deus é sua vida pactual, ele desejou estabelecer e revelar seu pacto em Cristo, e outras coisas no conselho de Deus estão relacionadas a esse propósito principal de Deus como meios. Dessa forma, obtemos a seguinte ordem dos decretos:
1. Deus quis revelar sua própria glória eterna no estabelecimento do seu pacto.
2. Para a realização desse propósito, o Filho se torna o Cristo, a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação, para que nele como o primogênito dos mortos toda a plenitude de Deus pudesse habitar.
3. Para esse Cristo e a revelação de toda a sua plenitude, a igreja é decretada, e todos os eleitos. No decreto de Deus, Cristo não é designado para a igreja, mas a igreja para Cristo. A igreja é o seu corpo e serve ao propósito de revelar a plenitude que há nele.
4. Para o propósito de realizar isso à igreja de Cristo e, portanto, à glória de Cristo, os réprobos são determinados como vasos de ira. A reprovação serve ao propósito da eleição como a palha serve para o amadurecimento do trigo. Isso está em harmonia com o pensamento real da Escritura. Encontramo-lo expresso literalmente em Isaías 43.3-4: "Porque eu sou o SENHOR teu Deus, o Santo de Israel, o teu Salvador; dei o Egito por teu resgate, a Etiópia e a Seba em teu lugar. Visto que foste precioso aos meus olhos, também foste honrado, e eu te amei, assim dei os homens por ti, e os povos pela tua vida."
5. Finalmente, no conselho de Deus, todas as outras coisas no céu e sobre a terra são designadas como meio para o cumprimento da eleição e reprovação e, portanto, para a glória de Deus e da sua igreja. Porque no decreto de Deus todas as coisas são concebidas dessa maneira, todas as coisas devem cooperar juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Nessa luz podemos também entender a Escritura quando ela diz que "tudo é vosso; seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, seja o presente, seja o futuro; tudo é vosso, e vós de Cristo, e Cristo de Deus" (I Cor. 3.21-23).
Fonte: Reformed Dogmatics, vol. 1, Herman Hoeksema, Reformed Free Publishing Association, pp. 236-237.
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