Herman Hoeksema
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto1
Com respeito ao caráter dessa unidade da igreja,2 devemos enfatizar que ela tem sua origem em Cristo. Cristo é o seu princípio. Sem Cristo essa unidade ou comunhão espiritual não existe nem por um instante, não mais que a luz existe sem o sol. O Cristo das Escrituras, o Filho de Deus, que foi crucificado e morto, que morreu pelos pecados do seu povo, que ressuscitou ao terceiro dia, e que foi exaltado às alturas no céu—esse Cristo recebeu a promessa do Espírito Santo (Atos 2:23). Por esse Espírito, Cristo habita em seu corpo, a igreja, e em todos os seus membros. Por seu Espírito, Cristo é o cabeça da igreja, não somente no sentido que a representa, e não somente como seu Senhor que governa sobre ela, mas também organicamente como seu princípio unificador.
Todos os membros da igreja, como membros de um corpo, participam de Cristo. A vida do Senhor ressurreto pulsa em todos eles. Os membros da igreja têm uma mente, a mente de Cristo (I Co. 2:16). Eles têm uma vontade, a vontade de Cristo. Um amor os une, o amor de Cristo. Um Espírito os vivifica, o Espírito de Cristo. Uma palavra os instrui, ilumina e dirige, a palavra de Cristo. Assim como podemos falar de uma unidade e afinidade natural de toda a raça humana, fundamentada na criação da humanidade por Deus a partir de um só homem (Atos 17:26), assim também existe uma unidade e comunhão espiritual da igreja que tem seu princípio na verdade que existe um Senhor e um Espírito, e que esse Senhor, através do Espírito, habita em toda a igreja e em todos os seus membros (Ef. 4:4-6). Cristo é o princípio da unidade e comunhão da igreja.
A partir desse princípio segue que a unidade da igreja não está em nenhum sentido no homem. A unidade da igreja não pode ser estabelecida pelo homem. Ela não é sustentada nem continuada pelo homem, nem destruída pelo mesmo. A unidade da igreja não procede do fato que os homens se congregam e concordam sob uma plataforma de princípios, sob uma confissão e princípios de governo eclesiástico, e sob certa forma de adoração. Todas essas podem ser manifestações e expressões da unidade da igreja, mas não constituem sua unidade. A comunhão da igreja não é estabelecida pela vontade e esforços dos homens, como aquela de uma mera sociedade humana.
Somente Cristo estabelece a unidade da igreja. Os homens não podem organizar uma igreja e estabelecer sua comunhão espiritual, exceto onde Cristo se agrada habitar por meio do seu Espírito nos corações dos homens, e nenhum homem tem poder para criar essa comunhão e se fazer um membro dessa comunhão espiritual. Uma pessoa se torna um membro dessa união somente pelo ato de Cristo, pelo qual ele recebe a pessoa no organismo de seu corpo. A unidade da igreja é baseada na comunhão da igreja com Cristo. A vontade dos membros não estabelece nem dissolve essa comunhão. Ela depende apenas da vontade de Cristo. Quando, portanto, confessamos crer na unidade da igreja, na comunhão dos santos, não queremos dizer que devemos aspirar por tal unidade, mas antes que ela existe de fato e que sua existência descansa na vontade de Cristo, que por seu Espírito habita em todos os membros de seu corpo.
Fonte: Reformed Dogmatics, Herman Hoeksema, Reformed Free Publishing Association, vol. 2, pp. 238-240.
1E-mail para contato: felipe@monergismo.com. Traduzido em maio/2007.2
Ver seção anterior: A Unidade da Igreja
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